quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Gênero e Política


Em Jomtien, 1990, a Conferência Educação para Todos, com vistas a uma conceitualização crítica do Desenvolvimento, aponta a mulher como prioridade-chave para as ações da Educação de Jovens e Adultos no século XXI. Na Conferência Mundial sobre a Mulher, em Beijing, 1995, o debate sobre essa prioridade suscitou uma reflexão profunda sobre a inter-relação entre a educação da mulher e sua capacidade de ação.

As discussões, em diferentes regiões, línguas e espaços (escolas, sindicatos, partidos e movimentos sociais), e sobre uma diversidade de assuntos, envolvendo uma multiplicidade de instituições, temáticas e disciplinas contribuíram para a identificação e o esclarecimento sobre problemáticas, de forma a estabelecer os marcos referenciais de uma crítica da capacitação da mulher para a ação e da função da educação nesse processo.

Com base em trabalhos prévios desenvolvidos pela UNESCO através de seminários internacionais, surge a proposta de capacitação da mulher através da Aprendizagem de Adultos. É relevante fazermos uma síntese de certos aspectos dessa discussão e uma revisão dos marcos de referência da capacitação de adultos. Em Beijing, ainda que centrado no termo EMPOWERMENT, em diferentes partes do documento final da conferência pode-se apreciar diferentes significados para o vocábulo.

1. Sentido de AUTOCONFIANÇA INDIVIDUAL

2. Referência a FORÇAS COLETIVAS

Compreensões contraditórias? S. Longwe (1997) diferencia uma perspectiva alternativa da perspectiva conservadora que reconhece só um enfoque puramente econômico e individual, e segundo qual a capacitação para a ação é vista como a capacitação da mulher para sacar maior proveito da sua própria vida. Configurada como uma perspectiva radical, neste sentido a capacitação para a ação é sinônimo de geração de graus de mobilização e organização política adequados para a mulher estar em situação de tomar posse.

Longwe assinala que mesmo do ponto de vista mais tradicional, a mulher pode ser capacitada para a ação desde que tenha acesso a alfabetização, a educação e a aquisição de habilidades produtivas e capital, recursos que lhe estruturem o caminho; mas afirma ser limitada a visão que se basta no progresso individual, sem nenhuma perspectiva social do problema.

A perspectiva alternativa enfatiza a ação coletiva das mulheres a fim de reconhecer e abordar conjuntamente os problemas relacionados ao gênero que obstacularizam o desenvolvimento – tomado como contexto que implica a transformação da Sociedade Patriarcal através de um processo de esclarecimento, conscientização e organização coletiva, com fins a superação das tradições e atitudes patriarcais.

A criação da autoconfiança é a função que cabe a capacitação para a ação no contexto da transformação das estruturas, mas devemos ter em mente que ainda que a importância da capacitação seja a conseqüente melhoria na auto-estima da mulher, a educação implica em um processo cognitivo que tem lugar no nível do indivíduo, portanto deve ser igualmente considerado e analisado.

O objetivo, a transformação, não se limita a sociedade, visto que abarca igualmente o indivíduo e todo o complexo de suas relações, especialmente as referentes ao poder - termo desenvolvido pelas correntes marxistas, feministas, pós-estruturalistas e freirianas, importante por abordar e debater uma gama de significados, na medida em que possibilita uma visão global de diferentes fundamentos.

(MEDEL-ANONUEVO, Carolyn. Aprendendo sobre Justiça em matéria de Sexos: desafio a E.J.A. no Século XXI.)

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