terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Movimento para o século XXI


A teoria e a prática feminista chegam, em fins do século XX, a um projeto ambíguo que envolve a crítica das definições, das representações e teorizações existentes sobre a mulher, ao lado da criação de novas imagens e novas representações sociais compatíveis para a subjetividade feminina.

A mudança de foco observa-se sobre o trabalho dos historiadores que tomam como objeto o pensamento feminista: do afastamento da primitiva análise da condição feminina como centrada na mulher, que tomou como ponto de partida a definição de mulheres como sujeito empírico, para a aproximação do tipo de análise centrada no gênero. O materialismo primitivo da abordagem feminista radical, alinhado com a célebre fórmula de S. Bouvoir, tornar-se mulher, é substituído pela nova ênfase na materialidade de um sujeito feminino como entidade biocultural.

O impacto das teorias psicanalíticas de Lacan desempenhou um papel importante na reorientação das prioridades da agenda teórica feminista, pois tornou operacional a diferença sexual dentro da teoria feminista. Politicamente, deve-se começar pela afirmação da necessidade da presença da mulher na vida real, em posições de subjetividade discursiva, e teoricamente, como reconhecimento do primado das raízes corporais da subjetividade, deve-se rejeitar tanto a tradicional visão do sujeito como universal, neutro e sem gênero, quanto a lógica binária que sustenta essa visão.

A psicanálise marca a dupla mudança histórica que abre a era da modernidade: a crise da visão clássica do sujeito e a proliferação de imagens do outro como signo de diferença. Chega-se então a um consenso: da rejeição de qualquer postura pseudo-universalista que adota o masculino como regra, a amplitude de aceitação das posições sobre a diferença sexual.
Assim, as tendências recentes adotam o conceito de diferença como sinal de desejo de conhecimento da cultura ocidental, cuja importância preponderante está associada a entrada na era da modernidade, onde a diferença marca o afastamento da noção religiosa de sujeito racional consciente e também da avassaladora masculinidade de idéias como subjetividade e consciência.
Rosi Braidotti. A politica da diferença ontológica. in BRENNAN, Teresa. Para Além do Falo. Rio de janeiro: Record, 1997



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