quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O Dimorfismo Sexual

Os sexos diferem no que diz respeito a organização reprodutora, aos aspectos da constituição hormonal, e provavelmente no tamanho, potencia e resistência física. Entretanto, a biologia humana requer cultura humana, neste sentido, a diferença biológica torna-se muito importante quando interpretada pelas normas da cultura e da sociedade humana.

A força e as atividades masculinas parecem ser valorizadas em todas as culturas, mas as atividades e os sentimentos humanos não são diretamente organizados pela biologia, mas sim pela interação das tendências biológicas com as várias expectativas culturais específicas, os esquemas e símbolos que coordenam nossas ações e permitem nossa sobrevivência.

O que é ser homem ou mulher dependerá, então, das interpretações biológicas associadas a cada modo cultural de vida. É através da utilização de formas simbólicas, como a linguagem, no contexto de uma cultura específica e sob a influência de diferentes formas de ações, que “o homem como animal é capaz de interpretar e alterar sua constituição biológica”.

Michelle Zimbalist Rosaldo observa que o conhecimento especulativo usado para a diferenciação das atividades masculino-femininas, que se constitui como tendência que influência a ética dominante do masculino, é reflexo da herança sociocultural das adaptações primitivas (formas sociais primitivas). Fatores biológicos como a amamentação, associam à mulher a criação dos filhos e a responsabilidade sobre o lar. Em agrupamentos socioculturais semelhantes, as funções físicas femininas, a cultura específica e as diferentes formas de ação das mulheres são associadas a natureza.

Sendo vista como mais natural e menos cultural, seu papel doméstico e sua personalidade são combinados para estimular definições culturais que enfatizem aquelas funções físicas femininas associadas à natureza, no que esta tem de valor negativo - o que pode sugerir uma relação não-humana do ser feminino, possibilitando a partir daí um fundamento cultural lógico para a desigualdade; para a sua subordinação ao papel maternal e doméstico como tendência biológica ou evolutiva; e para a sua exclusão de esquemas culturais de transcendência.

Rosaldo questiona sobre a razão por que perduram até a atualidade essas tendências associadas a adaptação primitiva do homem? Se nas sociedades primitivas a limitação dos movimentos das mulheres ocorria muito em função do trabalho na coleta e criação dos filhos, em oposição às atividades cooperativas dos homens caçadores; para as sociedades atuais perdurou o sentido de oposição, mas em relação a um papel público que lhe garantiria autoridade, prestigio e valor cultural.

Michelle Zimbalist Rosaldo e Louise Lamphere (coord). A Mulher, a Cultura e a Sociedade: Uma revisão Teórica. In:A Mulher, a Cultura e a Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 1979 (Coleção O Mundo, Hoje)

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