quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Feminismo, palavra descartada (Mas apenas a palavra)



Marina Colasanti teve uma atuação importante, como jornalista, no sentido de esclarecer e dar maior consciência às mulheres brasileiras quanto à sua condição. Nas décadas de 70/80, quando a barra era mais pesada, a ação feminista de Marina, tanto na imprensa como nos livros sobre o assunto que ela publicou, ajudou a modernizar os costumes por aqui.


Nos anos 90/00, já afastada do jornalismo diário, Marina Colasanti se afirmou mais como escritora de literatura, publicando livros de contos e poemas de excelente nível. Como interessada direta nessa questão de mulher - claro, principalmente literatura da mulher - resolvi fazer algumas perguntas a Marina a respeito.


SC - Você, Marina, pioneira de uma nova defesa dos direitos da mulher no Brasil, acha que ainda tem sentido falar em feminismo agora? Será que o assunto não entrou demais na mídia e virou clichê?


MC - Essa palavra, "feminismo," foi descartada ideologicamente no encontro de Beijing e com ela descartou-se o perfil das ações que, de estritamente ligadas às questões femininas, passaram a ser voltadas para as questões de gênero e, de uma maneira mais geral, de cidadania. Não foi um desgaste provocado pela mídia, foi uma mudança política.


SC - Que postura, em linhas gerais, você tem agora, com relação aos direitos da mulher brasileira?


MC - Trabalhei mais diretamente com essas questões enquanto estive na ativa como jornalista. Há anos estou afastada da redação e as solicitações para tratar desses temas são cada vez mais esporádicas. De todo modo, continuo atenta, preocupada com o quase esquecimento em que caíram assuntos importantes e inquieta com uma nova alienação que brota entre as jovens.


SC - Em particular, qual a sua postura com relação aos direitos da escritora brasileira hoje? Acha que ainda é marginalizada?


MC - Marginalizada não me parece a palavra exata. Preconceitos existem, mas certamente são menos flagrantes hoje do que ontem. O mercado está aberto para as mulheres, não só porque reconhece o valor dos seus textos, como porque sabe, através das pesquisas, que as mulheres são, disparado, as maiores consumidoras de livros de ficção e poesia. Talvez a crítica não esteja tão livre de preconceitos quanto o mercado.


SC - Ainda tem sentido organizar, agora, coletâneas de literatura feminina?


MC - As coletâneas não estão à procura de sentido, estão à procura de público. São fenômenos de mercado. No livro "Fragatas Para Terras Distantes," que lancei no fim do ano passado, há um capítulo que trata diretamente dessas questões e da escrita feminina.


SC - O que você está escrevendo agora?


MC - No momento, estou revendo as provas finais de um livro novo, "23 Histórias de Um Viajante," e devo lançar este mês um novo livro de poesia, "Fino Sangue," pela Record.

(Entrevista concedida a Sonia Coutinho http://www.sidarta.blogger.com.br/2005_05_01_archive.html)

Nenhum comentário: